Representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil consideraram positivos os resultados dos debates da Conferência Regional da América Latina e Caribe sobre Alfabetização e preparatória para a Confintea VI (Conferência Internacional de Educação de Adultos), que aconteceu de 10 a 13 de setembro, na Cidade do México, sob o tema Da Alfabetização à Aprendizagem ao Longo da Vida: rumo aos desafios do século XXI. “Houve possibilidade de intervenção da sociedade civil, pela presença de governos abertos ao diálogo, e isso resultou num documento final bastante bom, que trata de questões importantes e de forma progressista”, afirma Sérgio Haddad, representante do Conselho Internacional de Educação de Adultos (ICAE).
A conferência, organizada pela UNESCO, com apoio do Governo do México e do Instituto Nacional de Educação de Adultos (INEA), contou com plenárias e reuniões de grupos de trabalho. Coube à educadora Rosa María Torres a sistematização dos resultados dos documentos nacionais dos países da América Latina e Caribe. “A apresentação levantou questões trazidas pelos diferentes países, mas as especificidades da região não foram tratadas”, explica Haddad (Leia aqui o relatório elaborado por Rosa María).
O debate da conferência centrou-se na exposição da educadora, uma vez que os participantes não tiveram acesso ao relatório, nas mesas-redondas e painéis temáticos. “Não havia consenso em torno do que a Rosa Maria apresentou. Apesar disso, foi possível construir um documento final bastante satisfatório, que trata de desafios, avanços e especificidades da região”, avalia Maria Clara Di Pierro, professora da Faculdade de Educação da USP.
Também presente no evento, o representante do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (CEEAL), Pedro Pontual, destacou que prevaleceu o tratamento da EJA com a amplitude que tem desde Hamburgo (local da última Confintea, em 1996) e isso deve ser comemorado. “Reaparece a questão da educação popular e não formal como parte das obrigações de EJA. Do ponto de vista do Ceaal isso é muito importante”, explica.
O encontro também resultou no reconhecimento, por parte da Unesco e do governo brasileiro, do Comitê Facilitador, responsável pela organização do Fórum Internacional da Sociedade Civil, composto por diferentes organizações internacionais (Veja abaixo a lista dos integrantes).
Participaram da conferência mais de 30 países, por delegações ministeriais, especialistas em educação de jovens e adultos, representantes de organismos multilaterais e de organizações não governamentais, dentre outros. O evento realizado foi parte da série de seis conferências regionais de apoio à alfabetização no mundo (Life) e do ciclo de cinco conferências regionais previstas no processo preparatório para realização da VI Confintea, que ocorrerá de 19 a 22 de maio de 2009, em Belém, Brasil. “Precisamos agora fazer grande esforço para dar visibilidade à Confintea e aumentar o compromisso dos governos com a EJA”, conclui Haddad.
Documento final
O desafio que se coloca à região é, de acordo com o documento final da conferência regional, consolidar uma visão ampliada da educação de jovens e adultos, com o atendimento ao direito à educação que inclua o ensino formal e, ao mesmo tempo, valide as aprendizagens ao longo da vida. “Estamos diante de um paradigma que concebe o ser humano como sujeito da educação, possuidor de saberes singulares e fundamentais, criador de cultura, protagonista da história, capaz de produzir as transformações urgentes e necessárias para a construção de uma sociedade mais justa”, diz o documento.
Nesse sentido, cabe aos governos contemplar não apenas a educação formal, mas revalorizar a popular e propor uma “construção social do conhecimento em comunidades de aprendizagem que propiciem o encontro intercultural, intersetorial, entre as gerações, e a proteção do meio ambiente”, sendo a alfabetização um ponto de partida necessário às aprendizagens para exercício da cidadania.
A região da América Latina é entendida no texto em sua especificidade e heterogeneidade, com realidades diversas também no sentido educativo, o que exige “um grande esforço de diversificação, elaboração e melhoramento de políticas e programas, adequando-os a contextos e grupos específicos, levando em conta, entre outras diferenças, a idade, o gênero, a raça, a regionalidade, as diferentes capacidades e culturas”.
Nesse contexto, são reconhecidos avanços e desafios, a partir dos quais foram formuladas estratégias e recomendações, distribuídas em 13 pontos, que passam pelo necessário reconhecimento de que “a realização plena do direito humano à educação de pessoas jovens e adultas está condicionada à implementação de políticas de superação das profundas desigualdades econômicas e sociais dos países e da região”.
Leia aqui o documento na íntegra. http://www.acaoeducativa.org.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=1101&Itemid=288
Confintea
A Confintea é o maior evento internacional na modalidade EJA e busca o reconhecimento da educação e aprendizagem de adultos como elemento importante e fator contribuinte à educação ao longo da vida, cujo alicerce é a alfabetização. A primeira edição aconteceu na Dinamarca, em 1949. Mais informações sobre a conferência em http://www.acaoeducativa.org.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=1011&Itemid=259
Mais informações: http://www.icae.org.uy/
Colaborou Ludmila Oliveira de Carvalho, do Fórum Internacional da Sociedade Civil.